AfiniLit #1
Desde pequena tenho o hábito de sentar em um sofá ou em uma cadeira confortável, fazer um chá quentinho e me deixar entrar em um mundo desconhecido. Para quem não me conhece, quando eu tinha mais ou menos de 24 anos, um amigo me deu o livro, O Apanhador nos Campos de Centeio do escritor americano, J.D. Salinger, e eu nunca mais parei de ler. Apesar de proporcionar grupos de leitura em casa há mais de 12 anos, eu nunca tive a oportunidade de estudar a fundo sobre o assunto, mas peço aqui permissão de me auto-intitular uma “Curiosa da Literatura”, se é que este nome existe.
Irei escrever semanalmente sobre todas as minhas descobertas. Espero que gostem e embarquem comigo nesta incrível jornada de cultura e conhecimento!
Acima uma das frases que mais gosto do Santo Agostinho: “O mundo é um livro e aquele que não viaja lê sempre a mesma página.”
#LEIAMAIS
Relendo o último livro de Patti Smith, "Um Livro dos Dias", lançado em abril do ano passado pela Companhia das Letras, lembrei-me de que em um dos festivais, creio que tenha sido no Festival Internacional de Artes em Melbourne, na Austrália, ela compartilhou sua lista de livros favoritos.
O livro "Um Livro dos Dias", para quem não conhece, é uma coletânea dos melhores posts do Instagram da artista, proporcionando uma visão íntima de suas memórias, reflexões e experiências. É uma verdadeira jóia!
Segue aqui a lista:
"O Mestre e Margarida", Mikhail Bulgakov
"Viagem Ao Oriente", Hermann Hesse
"O Jogo das Contas de Vidro", Hermann Hesse
"Coração das Trevas", Joseph Conrad
"Moby Dick", Herman Melville
"Billy Budd", Herman Melville
"Canções da Inocência e da Experiência", William Blake
"Os Garotos Selvagens", William Burroughs
"Uivo", Allen Ginsburg
"Uma Estação no Inferno", Arthur Rimbaud
"Iluminações" de Arthur Rimbaud
"O Pôquer de Wittgenstein", David Edmonds & John Eidinow
"Villette", Charlotte Bronte
"O Processo", Brion Gysin
"O Livro de Caim", Alexander Trocchi
"Coriolano", William Shakespeare
"O Príncipe Feliz", Oscar Wilde
"O Céu que nos Protege", Paul Bowles
"Contra a Interpretação", Susan Sontag
"Os Buscadores do Esquecimento", Isabelle Eberhardt
"Mulheres do Cairo", Gérard de Nerval
"Debaixo do Vulcão", Malcolm Lowry
"Almas Mortas", Nikolai Gogol
"O Livro do Desassossego", Fernando Pessoa
"A Morte de Virgílio", Hermann Broch
“Erguei Bem Alto a Viga, Carpinteiros e Seymour”, J.D. Salinger
"Franny & Zooey", J.D. Salinger
"A Letra Escarlate", Nathaniel Hawthorne
"Uma Noite de Bebedeira Séria", René Daumal
"Swann no Amor", Marcel Proust
"A Morte Feliz", Albert Camus
"O Primeiro Homem", Albert Camus
"As Ondas", Virginia Woolf
"Big Sur", Jack Kerouac
Qualquer obra de H.P. Lovecraft
Qualquer obra de W.G. Sebald
"O Diário de um Ladrão" ou qualquer obra de Jean Genet
"O Projeto das Arcadas" ou qualquer obra de Walter Benjamin
“Poeta em Nova York", Frederico García Lorca
"A Honra Perdida de Katharina Blum", Heinrich Böll
"O Bebedor de Vinho de Palma", Amos Tutuola
"Gelo" de Anna Kavan ou qualquer obra dela
"A Proporção Divina", H.E. Huntley
"Nadja", André Breton
Também não conseguiria indicar poucos livros. E você? Quais são os seus livros favoritos?
PALAVRA#1: COMPAIXÃO
Sentimento de piedade com o sofrimento alheio; comiseração, piedade.Sentimento de pena; dó: sentia compaixão pelas pessoas infelizes.Sentimento de pesar, de tristeza causado pela tragédia alheia e que desperta a vontade de ajudar, de confortar quem dela padece.Etimologia (origem da palavra compaixão). A palavra compaixão deriva do latim "compassio,onis", que significa sofrimento coletivo.
TRECHO LIVRO#1: A insustentável leveza do ser, Milan Kundera
“Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra compaixão com o prefixo com-e a raiz passio, que originariamente significa “sofrimento”. Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra sentimento (em tcheco: sou-cit; em polonês: wspol-czucie; em alemão: Mit-gefuhl; em sueco: medkänsla). Nas línguas derivadas do latim a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio; em outras palavras: sente-se simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo sentido, piedade (em inglês pity, em italiano pietà etc.), sugere até uma espécie de indulgência para com o ser que sofre. Ter piedade de uma mulher é se sentir mais favorecido do que ela, é se inclinar, abaixar-se até ela. É por isso que a palavra compaixão em geral inspira desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade. Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz passio, “sofrimento”, mas com o substantivo sentimento, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra numa outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (cossentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspolczucie, Mitgefuhl, medkänsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.”
A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera
Ed. Companhia das Letras, 1984
Tradução: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca
#AGENDALITERÁRIA:
Ocorrerá em São Paulo a Feira do Livro na Praça Charles Miller, no Pacaembu, entre os dias 29 de junho e 07 de julho. Este festival literário reunirá alguns dos principais autores brasileiros e internacionais em debates gratuitos. O evento é organizado pela Associação Quatro Cinco Um, uma organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro, e pela Maré Produções, uma empresa especializada em eventos e exposições de arte.
A lista de nomes divulgados inclui uma variedade de autores de diferentes países e regiões do Brasil, tanto de ficção quanto de não ficção. Destacam-se também nomes importantes da literatura contemporânea internacional, como Camila Sosa Villada, Camila Fabbri, Claudia Piñeiro, Jamaica Kincaid, Jabari Asim, Natalia Timerman, Stênio Gardel, vencedor do National Book Award, e o ensaísta e ficcionista paranaense Caetano W. Galindo.
Não Percam!
Ilustração Freddy Langeler, Het Hondenboekje, 1948
#CORREIOLITERÁRIO:
O que acham de realizarmos juntos um exercício semanal?
Proponho escrever esta semana, um parágrafo ou cinco linhas sobre o seguinte tema: "O que você diria para o seu eu mais jovem".
Os 5 melhores serão repostados aqui!
#VOCÊSABIA?
Vincent van Gogh era um ávido leitor e apaixonado pela busca do conhecimento. Ele expressou sua devoção aos livros ao afirmar:
"Tenho uma paixão mais ou menos irresistível pelos livros.
E preciso continuar a me instruir e estudar. Assim como preciso do meu pão."
A estudiosa Mariella Guzzoni realiza uma extensa pesquisa e revela neste livro a influência da literatura em todos os aspectos da vida de Vicent van Gogh. No livro "Vincent's Books", escrito por ela e publicado pela renomada editora Thames & Hudson, somos convidados a explorar os autores preferidos de Van Gogh, os livros que mais o impactaram e sua profunda ligação com a literatura. Tudo acompanhado por reproduções de suas pinturas, cartas e seus livros favoritos.
Vincent van Gogh, French Novels and Roses in a Glass (‘Romans Parisien), Paris, October–November 1887 Photo credit: Private collection
Vincent's Books, Mariella Guzzoni, Editora Thames & Hudson, 2020
"Eu estou lendo Pierre e Jean, de Guy de Maupassant; é belo, você leu o prefácio, explicando a liberdade que tem o artista de, num romance, exagerar, criar uma natureza mais bela, mais simples, mais consolidadora, e depois explicando o que talvez signifique exatamente a frase de Flaubert: o talento é uma longa paciência, e a originalidade é um esforço de vontade e de observação intenso? (Vicent van Gogh em Cartas a Theo).
“Meu Deus, como é belo Shakespeare. Quem seria tão misterioso como ele? Suas palavras e sua maneira de fazer equivalem a um pincel fremente de febre e emoção. Mas é preciso aprender a ler, como é preciso aprender a ver e aprender a viver” (Vicent van Gogh em Cartas a Theo).
Cartas a Theo, Vicent van Gogh, Editora 34, 2023 - 1ª edição
#LIVROSAFINIDADESLITERÁRIAS:
Recentemente, descobri o novo livro da escritora argentina Ariana Harwicz, "O Ruído de uma Época", e terminei em apenas um dia. Para os amantes da literatura, Ariana nos brinda com um vasto conhecimento sobre temas atuais, gerando reflexões sobre escrita, arte, memórias e atualidades. Podemos considerá-lo um relato observacional sobre o mundo das artes, convidando-nos a refletir sobre nossas vivências e experiências. Compreendemos como ela se inspira para escrever, bem como a importância de sua liberdade pessoal e artística, e a relevância de assumir certas posições sem parecer uma pessoa privilegiada.
O Ruído de uma Época, Ariana Harwicz, Editora Instante, 2024
Tradução: Silvia Massimini Felix
Ariana Harwicz é autora de um dos meus romances favoritos: "Morra, Amor" (2012), lançado aqui no Brasil, pela Editora Instante em 2019.
A narradora do livro é anônima. Ela tem um filho, marido, sogra, um amante e mora em uma cidade esquecida no interior da França. Um pouco louca, um pouco depressiva, é impaciente, irritável e irracional. "Era domingo, véspera de feriado. Estava a poucos passos deles, escondida entre as ervas daninhas. Eu os espiava. Como eu, mulher fraca e malsã que sonha com uma faca na mão, era mãe e esposa desses dois indivíduos? O que fazer?"
É um retrato de uma mãe jovem, confusa pela maternidade e por suas obrigações. Tudo a incomoda, sente-se sufocada e reprimida. Ela tem vontade de ter uma vida equilibrada e luta contra si mesma para manter sua sanidade mental. Procura o tempo todo o papel que a sociedade estabeleceu como mãe e como mulher, mas tem muita dificuldade em encontrá-lo.
Na leitura, percebemos também os desejos mais profundos que a paixão e a maternidade podem causar, a questão do bem e do mal e os pensamentos internos. A história vai se desenrolando e, ao mesmo tempo, mudando de foco, deixando-nos também confusos.
Nós, leitores, vamos relembrando da maternidade, como ela pode ser diferente para cada pessoa e a dificuldade em sermos nós mesmas. Como um conselho, Ariana Harwicz explica muito bem que famílias perfeitas como vemos nos filmes são difíceis de encontrar e como a maternidade muda as relações familiares.
Foi adaptado para o teatro na Argentina e em Israel e teve grande reconhecimento da crítica internacional. O livro é a primeira parte de uma trilogia “involuntária”, chamada por Harwicz de “trilogia da paixão”, tendo em vista que os três livros exploram a relação entre mães e filhos. Dela também fazem parte os romances La débil mental [A débil mental], de 2015, e Precoz [Precoce], de 2016. Harwicz também é autora de Degenerado (2019).
O livro é extremamente forte, violento, explora a paixão humana, a ausência, a psique feminina e beira a loucura. É uma viagem ao interior do feminino.
Morra, amor, Ariana Harwicz, Editora Instante, 2019
Tradução: Francesca Angiolillo
#livrosafinidadesliterarias #arianaharwicz
Nos vemos em breve! : )
Mande aqui as suas críticas e sugestões e peço desculpas pelos erros ortográficos pois esta hora ninguém mais segura o meu amigo TDAH.